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Aproximação do design e artesanato para um desenvolvimento sustentável, na comunidade de Guaraqueçaba - PR

Jusméri Medeiros


Vivemos em um país onde grande parte dos seus habitantes possui habilidades manuais, trazidas da cultura dos índios, negros, imigrantes e das necessidades de sobrevivência. Soma-se a isto, a nossa riqueza e diversidade de materiais fornecidos pela natureza. Estas habilidades, diversidades culturais, e materiais aliados à criatividade na confecção de artefatos, fizeram com que o artesanato se tornasse um caminho para capacitar comunidades excluídas. Um produto artesanal é o resultado de várias ações que devem estar sincronizadas com a cultura e bem estar do grupo a ser enfocado.
Para Canclini (2003), “a cultura não apenas representa a sociedade, cumpre também, dentro da necessidade de produção do sentido, a função de reelaborar as estruturas sociais e imaginar outras novas. Além de representar as relações de produção, contribui para sua reprodução, transformação e para a criação de outras relações”.



O saber-fazer vem da experimentação de sentir as fases de um processo de construção do conhecimento, e da importância de cada uma delas. Essa habilidade envolve um sentir em conjunto, com os outros, e com os significados das ações.
Trabalhar com comunidades artesanais significa pensar principalmente na cultura, história e muitas vezes até resgatar a auto-estima de pessoas que se encontram à margem da sociedade, sem perspectivas, tendo seu trabalho desvalorizado. Este cenário, que é muitas vezes encarado de forma única se caracteriza pela diversidade de manifestações, que vão desde as mais tradicionais, de raízes remotas, como a indígena (que devem ser preservadas e valorizadas sem interferências inconseqüentes), até as pessoas que não tem a tradição artesanal, mas buscam, no setor, uma nova possibilidade de trabalho.



Uma forma encontrada pelos órgãos governamentais e não governamentais de congregar estas pessoas excluídas foi através da formação de cooperativas populares de artesãos. O objetivo destas cooperativas é de gerar oportunidades, ocupação de mão de obra e geração de renda, além de ser uma opção estratégica para reduzir a pressão social causada pelo desemprego.

 
No contexto da atual velocidade de apropriação da natureza e das leis de proteção de áreas, há um impacto entre a cultura de massas e a cultura popular. Por um lado a população mais pobre não dispõe de meios materiais para participar da cultura de massa, e por outro, ela não tem condições de sobrevivência sem exercer atividades produtivas. Mas esta população, dita excluída do sistema industrial de produção, possui sua cultura baseada no território, no trabalho e no cotidiano. Com isto, acaba criando a cultura popular baseada em uma economia própria e em uma política territorial valorizando, ao mesmo tempo, a experiência da escassez e a experiência da convivência e da solidariedade.


A cultura não é uma realidade posta, mas está sempre em construção, dependendo de muitas escolhas individuais nas percepções das sociedades, como aponta Geertz (1989); a cultura é uma grande “teia de significados”, tecida pelos próprios homens. Os símbolos significantes surgem nas relações dos indivíduos, sendo “construídos historicamente, mantidos socialmente e aplicados individualmente” (p. 151). Nas aproximações com as comunidades, o designer deve estar atento para estas “marcas”, os símbolos construídos e aplicados pela sociedade, sendo pelas memórias pode-se chegar a interpretá-los à luz do presente.


Segundo Capra (2002), o que é sustentado numa comunidade sustentável não é o crescimento econômico nem o desenvolvimento, mas toda a teia da vida da qual depende, em longo prazo, a nossa própria sobrevivência. No domínio humano, a sustentabilidade é perfeitamente compatível com o respeito à integridade cultural, à diversidade cultural e ao direito básico das comunidades à autodeterminação e à auto-organização.


As oficinas realizadas em Guaraqueçaba-Pr procuraram trabalhar dentro das idéias de cultura e sustentabilidade. Os designers foram os profissionais que atuaram nessa interface através de projetos sociais. Foram dadas, aos membros do grupo, condições para se pensar em novas formas de olhar o espaço em que moram, e de valorizar o seu saber-fazer. O caminho a seguir depende das relações sociais que eles venham a travar com as forças e os interesses do mercado de trabalho.

Medeiros, J. et. al. – Aproximação do design e artesanato para um desenvolvimento sustentável, nacomunidade de Guaraqueçaba–PR